Somos o que comunicamos !?



Vivemos numa sociedade bulímica de informação que nos chega demasiado depressa, sem deixar tempo de nos posicionar numa atitude reflexiva perante este outro mundo que nos chega por todos os lados.
Temos acesso a tudo o que acontece no mundo a qualquer momento, testando os filtros da nossa inteligência e das nossas emoções.

Tal excesso de informação acaba por não deixar espaço ao pensamento nem a uma comunicação responsável sobre essa mesma informação, ficando apenas uns barulhos ensurdecedores e cansativos que hoje vieram perturbar a minha corrida matinal :

- Ouviste a notícia os jihadistas portugueses, ouvi dizer, já não me lembro onde parece que andam por aí a recrutá-los nas universidades...eles querem é gente ligada à química ... e engenharias... 
- Olha que tenho o filho de um vizinho que tem umas coisas esquisitas tatuadas em árabe no braço...

 Quando o barulho é demasiado ensurdecedor, é da nossa responsabilidade dizer basta e acabar com um ruído demasiado tóxico.

Abandonei a minha passada de cruzeiro:

- Não pude deixar de ouvir a vossa conversa que me fez lembrar que nas demasiadas informações que recebemos e veiculamos é cada vez mais necessário aplicar o crivo socrático. Conhecem?
- Do Sócrates ?
- Do Sócrates que nasceu em Atenas, na Grécia antiga, no século V antes de Cristo e que até era  um grande atleta.
- Conte lá, sempre gostei de uma boa história.

- Sócrates tinha um amigo que se chamava Quidam e que um dia veio ter com ele:

Quidam — Sabes o que me disseram sobre o teu amigo?
Sócrates — Um momento, respondeu Sócrates. Antes que me contes seja o que for,
gostaria de te passar o teste dos três crivos.
.Quidam — Os três crivos?
Socrates — Sim. Antes de me contar seja o que for sobre outras pessoas, é bom ter
tempo para filtrar o que se vai dizer. É o que chamo o teste dos três crivos. O primeiro
crivo é o da verdade. 
Verificas-te se o que vais dizer é verdadeiro?
Quidam — Não. Apenas ouvi dizer…
Socrates — Muito bem. Então não sabes se é verdade. Vamos filtrar de outra forma,
utilizando o segundo crivo, o crivo da bondade. O que me vais dizer sobre o meu amigo
é algo de positivo?
Quidam — Ah não! Pelo contrário.
Sócrates — Assim, continuou Sócrates, vais-me contar coisas más que nem sequer
sabes se são verdadeiras.
 Podes talvez ainda passar o terceiro teste, já que ainda resta o crivo da pertinência ou utilidade. 
Será útil para mim que me informes do que o meu amigo fez ?
Quidam — Não. Realmente não.
Sócrates — Então, concluiu Sócrates, se o que tens para me contar não é verdade, nem
positivo, nem útil, porque é que mo queres dizer ? 

Lá estava eu contando, uma vez mais a metáfora do crivo que não sei se para eles tinha muita importância, ou se fez algum sentido para iniciar uma reflexão, porque apenas ouvi o tom de voz desconfiado:
- Não me diga que também é simpatizante dessa gente !
- Só lhe digo que influenciamos e somo influenciados pelo que dizemos, somos o que comunicámos e em certa medida será que não comunicámos o que somos!?
- Muito interessante de fato,  então isto dos jihadistas.....vamos mas é acelerar o passo...


Comentários

  1. O que é preciso é acelerar o passo que isto de parar para reflectir é muito monótono. :)

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