Procura-se....

Procura-se e move-nos em outras dimensões que o envolvem: o amor, o ódio, os medos, as cobardias, todas as nossas escolhas e não escolhas...  
Move o mundo... e contudo é uma palavra pouco utilizada, até pelos especialistas ou manipuladores da mente humana... 
Ontem, dia 20 de junho, foi o dia mundial dos refugiados, ou seja o dia em que se apela a que seja reconhecida a realidade do drama de milhares de pessoas que não são reconhecidas na sua identidade e por isso mortas ou torturadas nos seus países de origem... É o próprio destes dia nacionais, mundiais, internacionais, reconhecer que algo está mal relativamente a uma determinada dimensão da sociedade ou do planeta... 

E porém o que qualquer pessoa necessita, mesmo eu agora ou escrever estas palavras, é de reconhecimento, do olhar benevolente do outro para se inscrever no seu quotidiano, nas suas acções. 

Em criança, somos avidamente dependentes do olhar dos pais para nos sustentar nos nossos processos de descoberta, de maturação, através desse espelho benevolente e protector que nos incentiva a crescer. 
Mais tarde, procura-se a mesma imagem no olhar dos colegas, dos professores, da namorada, da esposa, do patrão e até dos filhos. 

Também é o reconhecimento que o adulto procura na sua sede de bem-estar pessoal, afetivo, amoroso,  material, profissional e até nos momentos de lazer.  
Basta ouvir o grupo de corredores amadores enumerar o rosário de provas, de tempos, de distâncias, para perceber quanto cada marco percorrido tem que ser publicitado e reconhecido na sua corrida contra o envelhecimento, contra os quilos, contra a trivialidade de um quotidiano sem outras surpresas...
Toda a vida psíquica inscreve-se nesse olhar de reconhecimento no que ele tem de significante para a representação de nós próprios e do outro.  
                Esse outro é um alter ego mas também é o que eu não sou: é o fraco quando eu sou forte, é o pobre, o estrangeiro, o  inculto, o inimigo, o opressor, ou seja é relativamente ao que reconheço no outro que defino o que sou.
  Somos dependentes desse reconhecimento, mas também é na consciência dessa dependência da minha relação ao outro que posso criar o meu espaço de liberdade, ficando sempre refém desse olhar, desse rosto, desse (re) conhecimento que me transmite sobre mim próprio.

O rosto do outro é criador de sentido, sem rosto não há relação, para conhecer alguém é necessário ver-lhe o rosto. 

Daí a dimensão puramente egocentrada das interacções das redes de comunicação pela Internet em que mais do que o outro o que prevalece é o que se transmite de si, dessa dimensão especular de nós próprios em que tal como no mito de Narciso nos enamorámos e nos afundámos na nossa própria imagem porque deixou de haver esse olhar, esse rosto que nos confronta com o que é de facto reconhecido e cpm o questionamento das dimensões que o outro nos devolve na sua falta de reconhecimento...


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